segunda-feira, outubro 23, 2006

qualquer título é bem vindo

Dançar até os músculos darem de si...
Até ao cansaço...
Até sentir dor física e aí ter uma razão palpável para chorar.

Ao choro que calamos!
À dor que escondemos!
Aos sonhos que sonhamos!
À vida que vivemos!
Aos amores que que não temos!

sexta-feira, outubro 20, 2006

Rodopios


Um dia acordei e senti que dançava no mundo.
A música tocava, suave e inspiradora.
As árvores acompanhavam-me, dançavam ao vento...

À medida que a musica se ia tornando mais trepediante, mais possessos eram os meus movimentos.
Agressivos e dilacerantes.

A dor nos pés não era nada, comparando à liberdade que sentia. O meu corpo voava... Fazia esculturas no ar.

E dancei até o vento não acompanhar mais as árvores, que foram parando pouco pouco, extasiadas de cansaço.
Dancei até as pontas me ferirem os dedos, mas feliz por ouvir o seu bater. Tão profundo, tão poderoso...

E fui dançando no mundo, pelo mundo...
Uma dança sem fim, uma dança sem pricncípio...
Uma dança minha e só minha.
Um solo ao luar!
Um tango, uma valsa ou uma mazurka.
Dancei todas.

Cabelos soltos e corpo descoberto,
A alma leve e um sorriso na face.

Oh doce rodopiar...

sexta-feira, outubro 06, 2006

O meu poema favorito...

Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegada poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

De fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia !

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!

Ary dos Santos